terça-feira, 21 de setembro de 2010

A inocência dos obtusos





Édipo - Crês tu que assim continuarás a falar, sem conseqüências?
Tirésias - Certamente! Se é que a verdade tenha alguma força!
Édipo - Sim! Ela a tem, mas não em teu proveito! Em tua boca, ela já se mostra fraca. Teus ouvidos e tua consciência estão fechados, como teus olhos.
(Rei Édipo - Sófocles)


    É absurdo o discurso de políticos que se fazem alheios a responsabilidade que tem por abusos, extorsões, recebimento de propina, negociações com verbas públicas, pagamento de favores com dinheiro do povo, cometido por si próprios ou dentro das instituições que são responsáveis.


    Assisti agora de manhã uma entrevista com a candidata Dilma, a mulher mais modificada, mais construída, mais maquiada que uma campanha eleitoral já lançou, em que, diante das perguntas sobre os escândalos ocorridos na Casa Civil que ela própria comandou por muito tempo durante o governo Lula, a unica preocupação que ela demonstrava era o por que daqueles fatos serem ligados a ela, uma vez que não ela não os havia cometido.


    Ora, que dono de uma empresa não é chamado à responsabilidade quando seus funcionários agem de má fé? Que gerente não é responsável pelos funcionários de seu setor? Que trabalhador não tem que assumir a conseqüência de seus atos e responder por aquilo que lhe foi confiado? Um pai não é responsável pelos filhos que ainda não foram emancipados e residem sob seus cuidados?


    Se essa responsabilidade não cai diretamente sobre os ombros dos superiores, porque não foram eles a cometer tais atos, não deve cair pelo menos a responsabilidade por terem sido obtusos e alheios àquilo que deveriam cuidar e auditar para justamente não haver crimes ou irregularidades em sua seção? 


    No livro citado acima, Édipo se depara com os males que suas atitudes causaram, mesmo as inconscientes, e horrorizado com os males que disso advieram, não chama para si a indulgência apoiada na sua ignorância, se auto condena e pune, arrancando os próprios olhos. Essa auto punição levada ao extremo serve de figura para a seriedade que o rei tinha e o senso responsabilidade que sua posição exigia, a ponto de abrir mão do próprio conforto e bem estar para receber a punição pela conseqüência de seus atos. 


    Na vida real, não há necessidade de tamanha punição. Entretanto, se faz cada vez maior a necessidade de consciência da população e dos governantes de trazer para si a responsabilidade pelos próprios atos e daqueles que estão sob seus cuidados, submetendo-se não aos rigores dos castigos físicos, mas aos rigores da lei.


    Enquanto houver cidadãos pagando propinas para burlar suas faltas, buscando meios ilegais de conseguir benefícios e não assumindo seus deveres ante a lei, como vamos esperar que os governantes hajam de forma diferente? Porque os governantes são um reflexo do povo, e não o contrário como se imagina.


    Sejamos justos. Sejamos corretos. Tenhamos nós autoridade moral para cobrar daqueles que devem governar a nação e transformá-la cada vez mais numa pátria de justiça e bondade.


Abraços a todos.
Paulo Bomfim

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